domingo, 1 de julho de 2007

Lembrando o Aleixo que Joaquim Magalhães tanto estimava ...






O que caracteriza a poesia de António Aleixo é o tom dorido, irónico, um pouco puritano de moralista, com que aprecia os acontecimentos e as acções dos homens.



Joaquim Magalhães
In Este Livro que vos deixo...
António Aleixo


Que importa perder a vida
em luta contra a traição,
se a Razão mesmo vencida,
não deixa de ser Razão


São parvos, não rias deles,
deixa-os ser, que não são sós:
Às vezes rimos daqueles,
que valem mais do que nós.


Veste bem, já reparaste?
mas ele próprio ignora
que, por dentro, é um contraste
com o que mostra por fora.


Os que bons conselhos dão
ás vezes fazem-me rir
por ver que eles mesmos, são
incapazes de os seguir.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

JMagalhães, o último aristocrata do ensino no LNF - A MINHA HOMENAGEM
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.....E no fundo, não sendo um revoltado, é a chaga aberta de um sofrimento íntimo, provocado por certas injustiças, a fonte dos seus desabafos....
____________
Assim escrevia o Professor Joaquim Magalhães , na Primavera de 1943, na introdução do livro de António Aleixo, "Este livro que vos deixo".
Estas linhas de Joaquim Magalhães caracterizam totalmente o Professor e o Homem, a quem eu, hoje chamaria sem dúvida o "último aristocrata do ensino no Liceu Nacional de Faro".
O facto de ter sido ele o "secretário" de António Aleixo, como este carinhosamente se lhe referia, é por si só esclarecedor do seu humanismo e consciência .

Mas venho essencialmente recordar o Professor de Francês do ano lectivo de 1963/64.
Penso que já naquela altura o Professor Magalhães tinha atingido aquele estágio só acessível aos eleitos, em que podia seguir cegamente os ditames do seu coração, sem medo de ultrapassar os limites do bem.
A sua voz pausada, o seu equilíbrio emocional, a sua pedagogia e a maneira como geria os conflitos eram de facto a sua imagem de marca.
Lembro-me que logo nas primeira saulas , havendo algum burburinho no fundo da sala (os meus saudosos colegas João Monteiro, Henrique Botto e Pratas.
O Professor Magalhães nada disse.
Sentou-se, calado, e assim permaneceu durante toda a aula.
O burburinho terminou e foi tal o espanto geral, que não se ouviu uma mosca durante 45 minutos.
Foi o silêncio mais ruidoso de toda a minha vida escolar.
Remédio santo.
Mas devo contar outra história, cujos detalhes se perderam, mas de que fica o essencial.
Havia um colega extraordinário, o Teixeira, carinhosamente alcunhado de "Chopin do twist", que vestia sempre um casaco característico, sempre sério, mas com uma capaciadde humorística fantástica.
Bastava olhar para ele para ver que estávamos na presença de um humorista fora de série.
Infelizmente de Francês sabia muito pouco e a sua "pronúncia" era ainda pior que a sua escrita.
Não sei hoje, à distância de 45 anos, se ele o fazia de propósito ou se aquela disciplina nada significava para ele.
Teixeira é chamado pelo Professor Magalhães para ler para a turma um texto em Francês.
Estou a rever a cena e ainda tenho vontade de rir.
Professor Magalhães sentado na sua cadeira, olhos semi-cerrados.
Teixeira pega no texto e começa a soletrar num "francês" absolutamente surrealista, sem pestanejar, sem voltar atrás, sem esboçar a mínima contração no rosto.
Professor Magalhães finge que dorme e mantém-se imperturbável.
A turma aperta a barriga de tanto rir.
Teixeira leva uns bons 20 minutos a ler.
Termina, pede licença para se sentar.
Professor Magalhães anui, e a campainha toca.
Pode dizer-se que fomos salvos pelo gongue, pois já ninguém aguentava aquela cena absolutamente hilariante, com as lágrimas nos olhos de tanto suster o riso.

Não sei o que aconteceu ao Teixeira.
Aliás ainda nem sei bem o que me aconteceu a mim.
Que esteja bem.

BELLIS

4 de julho de 2008 às 20:32

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